quarta-feira, 24 de junho de 2020

Onde está nossa segurança


Onde está nossa segurança e o que faz o governo municipal?
No dia 17/04/2020 tomei conhecimento que a prefeitura gastou R$ 800 mil para fazer o fechamento de tapume na Praça do Pôr do Sol. Pelo que li em matéria publicada na Gazeta de Pinheiros/Morumbi News, a Prefeitura supostamente superfaturou o valor de R$ 692 mil somente neste item e nessa praça.
Então me pergunto: por que ao invés do fechamento com tapume não transformar a praça em parque e, nessa situação de pandemia, como vem ocorrendo em todos os parques, manter a Praça do Pôr do Sol fechada? E aqui elogio à função da imprensa e particularmente do jornal.
Diante dessa notícia não pude me esquivar de rememorar a epopeia minha e de minha família nesse local. Moramos, eu e família, de 1973 a 1986, na rua Haiti, no Jardim Paulista. Uma rua bucólica, totalmente habitada por residências, até que começaram a derrubar casas e construir edifícios. Fui um dos “últimos moicanos”. Assediado insistentemente por corretores, só faltava minha casa para viabilizar a construção de um edifício. Eu resistia e argumentava que compramos a casa para morar e não para comercializar. Até que não houve mais jeito. Vendi a casa e mudamos para Alto de Pinheiros, em uma casa em frente à Praça do Pôr do Sol.
No primeiro domingo lá, por volta das 21h, ouvi um barulho e me dirigi à sacada em frente à praça. E vejo a seguinte cena: um homem apontando um revólver na cabeça de um jovem, e atirando em seguida. De súbito, minha reação foi correr imediatamente para a porta a fim de socorrer o jovem. E aí me dou conta da minha imprudência. Volto, entro em contato com a polícia que, ao chegar, verifica que o jovem está morto.
Sento-me em frente ao computador e redijo uma carta endereçada aos moradores. Distribuo cerca de 150 cópias convocando-os para uma reunião em minha residência. Resultado: fundamos a Associação Amigos da Região da Praça do Pôr do Sol.
A Praça, até então chamada por alguns de Praça dos Namorados, era um verdadeiro paraíso durante o dia, com exceção da presença de um carro, que ficava estacionado junto a um telefone público. Com o tempo, descobri que se tratava de um traficante de drogas que ficava aguardando pedidos de compra.
Durante a noite era um inferno; dezenas de carros estacionados, em cujo interior ficavam casais namorando. E, nas calçadas, traficantes vendendo drogas e aficionados se drogando. A algazarra era tanta que eu passava várias noites “em vigília”.
A partir de um determinado momento, passei a procurar meios para solucionar essa situação. Prefeitura, Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Polícia Militar, Guarda Civil Metropolitana, CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Cheguei a levantar fundos entre os moradores a fim de cercarmos a Praça. Nada feito. Segundo a Prefeitura, seria necessário transformá-la em Parque, e para isso só com a aprovação da Câmara Municipal.
Consegui me reunir com o Presidente do CET para a colocação de placas com “proibido estacionar”, e fui atendido. Só que a situação continuou a mesma, pois ninguém obedecia à sinalização e não havia nenhum policiamento para coibir a desobediência.
Então nossa reivindicação (moradores, escolas, paróquia) passou a ser “um posto da polícia na Praça”. Tivemos uma reunião na própria Secretaria, mas resultou em vão.
Cansado de tanto tentar sem resultado, resolvemos (apesar de ser contrário) contratar um esquema de segurança particular, com viatura percorrendo 24 horas a vizinhança da Praça. Todos em casa, ao chegar à noite, ligávamos para a viatura que ficava nos aguardando na porta de entrada para nos garantir um mínimo de segurança. Para minha casa em particular, contratei um sistema de segurança com a Siemens, que incluía, além de cerca elétrica, uma comunicação permanente com a central.
Resolvi também recorrer à imprensa. Em um domingo à tarde, juntamente com uma jornalista, fomos à residência do então Secretário de Segurança Pública. Ao chegar, coincidentemente, o próprio Secretário estava chegando com a família. Sua mulher, ao tomar conhecimento, nos disse “nem aos domingos vocês nos dão descanso!”. Ao que a jornalista retrucou “e os bandidos nos dão sossego aos domingos, dondoca?”.
Passei a noite de sábado (27/2), para domingo, com repórteres do jornal Diário de S. Paulo, na minha residência. Na segunda-feira, sai a seguinte reportagem na primeira página do jornal: “Veja como o tráfico age em praça de bairro nobre”, com a foto de um carro da PM e traficantes vendendo drogas.
Nessa mesma segunda-feira, à noite, uma coronel da PM toca a campainha de casa. E me diz “por que o senhor está denegrindo nossa corporação? Qual a sua fonte na imprensa?” E eu respondo “por que a senhora ao invés de nos propiciar segurança vem me ameaçar?”.
No final dessa semana, viajei com minha mulher para Ilhabela. Na época o celular não tinha sinal na Ilha. No domingo à noite, ao chegarmos à balsa, havia vários recados no celular, alertando que nossa casa tinha sido assaltada. Espalharam todas as nossas roupas, derrubaram muros etc. Chamei a polícia científica e verificaram que foi “coisa de profissional”. Não localizaram nenhuma impressão digital.
Para finalizar: vendemos a casa e mudamos para um apartamento. E, no início do ano de 2012, a três edifícios do nosso, houve um arrastão.
Onde está nossa segurança e o que faz o governo municipal?
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*Julio Tannus é engenheiro, consultor em estudos e pesquisa aplicada, coautor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier), autor do livro “Razão e Emoção” (Scortecci Editora)