Onde
está nossa segurança e o que faz o governo municipal?
No dia 17/04/2020 tomei conhecimento que a prefeitura gastou R$ 800 mil
para fazer o fechamento de tapume na Praça do Pôr do Sol. Pelo que li em
matéria publicada na Gazeta de Pinheiros/Morumbi News, a Prefeitura
supostamente superfaturou o valor de R$ 692 mil somente neste item e nessa
praça.
Então me pergunto: por que ao invés do fechamento com tapume não
transformar a praça em parque e, nessa situação de pandemia, como vem ocorrendo
em todos os parques, manter a Praça do Pôr do Sol fechada? E aqui elogio à
função da imprensa e particularmente do jornal.
Diante dessa notícia não pude me esquivar de rememorar a epopeia minha e
de minha família nesse local. Moramos, eu e família, de 1973 a 1986, na rua
Haiti, no Jardim Paulista. Uma rua bucólica, totalmente habitada por residências,
até que começaram a derrubar casas e construir edifícios. Fui um dos “últimos
moicanos”. Assediado insistentemente por corretores, só faltava minha casa para
viabilizar a construção de um edifício. Eu resistia e argumentava que compramos
a casa para morar e não para comercializar. Até que não houve mais jeito. Vendi
a casa e mudamos para Alto de Pinheiros, em uma casa em frente à Praça do Pôr
do Sol.
No primeiro domingo lá, por volta das 21h, ouvi um barulho e me dirigi à
sacada em frente à praça. E vejo a seguinte cena: um homem apontando um
revólver na cabeça de um jovem, e atirando em seguida. De súbito, minha reação
foi correr imediatamente para a porta a fim de socorrer o jovem. E aí me dou
conta da minha imprudência. Volto, entro em contato com a polícia que, ao
chegar, verifica que o jovem está morto.
Sento-me em frente ao computador e redijo uma carta endereçada aos
moradores. Distribuo cerca de 150 cópias convocando-os para uma reunião em
minha residência. Resultado: fundamos a Associação Amigos da Região da Praça do
Pôr do Sol.
A Praça, até então chamada por alguns de Praça dos Namorados, era um
verdadeiro paraíso durante o dia, com exceção da presença de um carro, que
ficava estacionado junto a um telefone público. Com o tempo, descobri que se
tratava de um traficante de drogas que ficava aguardando pedidos de compra.
Durante a noite era um inferno; dezenas de carros estacionados, em cujo
interior ficavam casais namorando. E, nas calçadas, traficantes vendendo drogas
e aficionados se drogando. A algazarra era tanta que eu passava várias noites
“em vigília”.
A partir de um determinado momento, passei a procurar meios para
solucionar essa situação. Prefeitura, Secretaria de Segurança Pública do Estado
de São Paulo, Polícia Militar, Guarda Civil Metropolitana, CET (Companhia de
Engenharia de Tráfego). Cheguei a levantar fundos entre os moradores a fim de
cercarmos a Praça. Nada feito. Segundo a Prefeitura, seria necessário
transformá-la em Parque, e para isso só com a aprovação da Câmara Municipal.
Consegui me reunir com o Presidente do CET para a colocação de placas
com “proibido estacionar”, e fui atendido. Só que a situação continuou a mesma,
pois ninguém obedecia à sinalização e não havia nenhum policiamento para coibir
a desobediência.
Então nossa reivindicação (moradores, escolas, paróquia) passou a ser
“um posto da polícia na Praça”. Tivemos uma reunião na própria Secretaria, mas
resultou em vão.
Cansado de tanto tentar sem resultado, resolvemos (apesar de ser
contrário) contratar um esquema de segurança particular, com viatura
percorrendo 24 horas a vizinhança da Praça. Todos em casa, ao chegar à noite,
ligávamos para a viatura que ficava nos aguardando na porta de entrada para nos
garantir um mínimo de segurança. Para minha casa em particular, contratei um
sistema de segurança com a Siemens, que incluía, além de cerca elétrica, uma
comunicação permanente com a central.
Resolvi também recorrer à imprensa. Em um domingo à tarde, juntamente
com uma jornalista, fomos à residência do então Secretário de Segurança
Pública. Ao chegar, coincidentemente, o próprio Secretário estava chegando com
a família. Sua mulher, ao tomar conhecimento, nos disse “nem aos domingos vocês
nos dão descanso!”. Ao que a jornalista retrucou “e os bandidos nos dão sossego
aos domingos, dondoca?”.
Passei a noite de sábado (27/2), para domingo, com repórteres do jornal
Diário de S. Paulo, na minha residência. Na segunda-feira, sai a seguinte
reportagem na primeira página do jornal: “Veja como o tráfico age em praça de
bairro nobre”, com a foto de um carro da PM e traficantes vendendo drogas.
Nessa mesma segunda-feira, à noite, uma coronel da PM toca a campainha
de casa. E me diz “por que o senhor está denegrindo nossa corporação? Qual a
sua fonte na imprensa?” E eu respondo “por que a senhora ao invés de nos
propiciar segurança vem me ameaçar?”.
No final dessa semana, viajei com minha mulher para Ilhabela. Na época o
celular não tinha sinal na Ilha. No domingo à noite, ao chegarmos à balsa,
havia vários recados no celular, alertando que nossa casa tinha sido assaltada.
Espalharam todas as nossas roupas, derrubaram muros etc. Chamei a polícia
científica e verificaram que foi “coisa de profissional”. Não localizaram
nenhuma impressão digital.
Para finalizar: vendemos a casa e mudamos para um apartamento. E, no
início do ano de 2012, a três edifícios do nosso, houve um arrastão.
Onde está nossa segurança e o que faz o governo municipal?
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*Julio
Tannus é engenheiro, consultor em estudos e pesquisa aplicada, coautor do livro
“Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier), autor do livro
“Razão e Emoção” (Scortecci Editora)